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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Lenda urbana - "O Demersus"

Relato de um jovem (não identificado) de New Castle sobre um acontecimento em 2002 falando de "Demersus" algo que habitava uma piscina abandonada na casa de seus primos no interior.

P.S - O nome Demersus é do latim e quer dizer algo como afogar, afogamento ou afogado...

Segue abaixo o conto:



"DEMERSUS"


Eu nunca tinha ouvido falar de nada parecido, sobre coisas estranhas e perigosas que podem estar tão próximas de nós, em nossos quintais…


Era final de outono em 2002, quando aconteceu, em uma visita rotineira a casa de primos que moravam numa cidade pequena  a qual não direi o nome, na verdade só um pouco menor que a nossa.
Lembro bem as árvores já haviam perdido as folhas alaranjadas e vermelhas típicas daquela região então só se via troncos pelados nos dois lados da rua que descia até a casa dos meus tios, os dias eram sempre nublados e húmidos nessa época.
Eeu estava lá há dois dias quando inventaram de fazer churrasco na área da piscina, que não usavam desde o final do verão, e haviam montes de folhas pelos cantos, a piscina ficara ali descoberta sem nenhum cuidado e isso tinha deixado a água verde, espessa e cheia de plantinhas na superfície, aquilo causava uma má impressão de descuido e falta de higiene. Meu primo mais novo Addam gritou apontando pra alguma coisa boiando na água, meu tio se aproximou preocupado, eu também, mas foi apenas para descobrirmos uma ave morta já quase sem as penas enroscada nas plantas, Josh meu primo mais velho a retirou dali com a rede, mas como ele era meio idiota não resistiu em pegar o pássaro morto pelas asas e aproxima-lo do rosto das pessoas, como qualquer babaca faria.
Mas fora isso aquela tarde passou sem mais delongas, e logo todos estavam dentro de casa porque estava esfriando, assistimos tv e deveria ser umas três da tarde, mas eu estava sem muito o que fazer, então voltei para pegar alguma coisa para beber na geladeira lá de fora, mas antes de entrar algo me fez parar na beira da piscina, como se fosse para observar um aquário onde havia algum animal escondido, o copo permaneceu cheio enquanto meus olhos se prendiam na forma retangular.
Acredito que não vi nada da primeira vez, mas tive a de que algo se moveu abaixo daquela superfície turva, procurei para ter certeza mas a água continuava estagnada, e resolvi parar com aquilo e entrar de uma vez. Mas não consegui dormir bem durante a noite pensando nisso e no dia seguinte movido pela curiosidade fui até lá de novo, olhar para aquela água escura causava um frio na barriga, a mesma sensação de estar encostado em uma parede a beira de um fosso cheio de escorpiões, e que se caísse afundaria em meio a todas aquelas patas, garras e ferrões, mas a piscina não era funda, já havia nadado ali diversas vezes antes, nos dias quentes com água límpida e fundo azul, mas depois de meses abandonada, estava turva e coberta de algas que não permitiam ver o fundo. Isso dava a sensação de que poderia haver qualquer coisa ali em baixo, mas apenas uma impressão desagradável provavelmente, afinal faz parte de nossa natureza não gostar-mos de água suja.
E naquele mesmo dia fomos pescar e voltamos só de tarde, meu primo Josh soltou uma pequena truta na piscina para mostrar ao irmãozinho, ela desapareceu na água escura e pensamos que não seria tão fácil vê-la de novo, mas poucos segundos depois o peixe saltou para fora se debatendo no piso seco, aquilo fora estranho, mas Josh o pegou e jogou de volta na água e não o vimos mais, perguntei para Josh o que poderia ter acontecido talvez a água estivesse muito suja para que pudesse viver, mas ele deu de ombros, falou que poderia ter uma cobra gigante morando ali enrolada no fundo depois que deixaram de usar a piscina desde que ficou muito frio para isso, e que isso assustou o peixe, e provavelmente o havia devorado agora, achei aquilo bem idiota.
Então ele falou que se eu quisesse saber o que havia acontecido com o peixe que mergulhasse atrás dele, aquilo era ainda mais absurdo, trocamos alguns insultos e quando me levantei para ir embora ele me empurrou, só consegui agarrar na manga de sua blusa de frio antes de cairmos na água, imediatamente senti o gosto de lodo podre invadir minha boca e vi um mundo dividido entre o verde claro vindo da superfície e o escuro do fundo, fui tomado pela agonia e me debati mas não conseguia me virar, as roupas de frio encharcadas se tornaram pesadas e limitaram meus movimentos, perdi um dos meus tênis enquanto tentava me virar a medida que afundava, foi ai que percebi uma sombra escura logo abaixo de mim, e de repente pisei no fundo da piscina, meu pé afundou em algo esponjoso e escorregadio, quando alguma coisa com pontas raspou em minhas pernas, vi o vulto escuro que lembrava uma tesoura curva aberta antes de desaparecer na água turva, a sensação de desespero tomou conta de mim, me debati e tirei a blusa grossa de alguma forma, assim fui em direção a claridade que parecia vir muito mais de longe do que realmente deveria.
Encontrei as cegas a borda e me puxei para fora o mais rápido que consegui, e rastejei pelo piso para longe da água, só me lembrei de Josh quando o ouvi rindo, ele estava encharcado também, sentando na beira da piscina, provavelmente se divertindo com oque acontecera, fiquei com raiva mas preferi sair dali, mas Addam havia chamado nossos pais e houve toda uma conversa sobre brincadeiras inadequadas, eu só queria ficar sozinho um pouco, mais tarde depois de um banho resolvi falar com meu tio, contei o que havia acontecido e sobre a possível coisa na água, ele me perguntou se não era o peixe que havíamos soltado ali, respondi que não, era obvio que não poderia ser, aquilo era uma pequena truta, enquanto o que eu vi, era com certeza bem maior, meu tio até brincou sobre ser a cobra gigante que Josh falara mais cedo e riu, por isso acabei desistindo e falar sobre o assunto, outro dia quase não dei atenção a piscina, logo começaria a nevar e ela ficaria congelada
A noite na hora de dormir lembrei que a janela do quarto onde estava agora (depois de não querer mais dormir no mesmo quarto que meu primo) dava para ver a piscina, olhei de relance para onde ela estava, de noite ficava ainda mais escura, parecendo agora um buraco sinistro no quintal.
Estava encarando a forma escura quando vi uma ondulação na água vinda do meio da piscina, não havia vento naquela hora, talvez se algo tivesse caído na água, mas não parecia muito provável, resolvi que deveria ser algum sapo que havia resolvido se refrescar, ou mesmo nosso pequeno peixe e fui dormir.
Acordei bem cedo, vi que a janela do meu quarto estava aberta e molhada, como se tivesse chovido, quando me aproximei fiquei paralisado, havia algo vermelho boiando na piscina, sai rapidamente para fora, mais tarde pensariam ser minha blusa que eu havia tirado enquanto caímos na água, mas não era minha, aquela blusa vermelha era de Josh, e quando foram até seu quarto ele não estava lá.
Foi ai que começou, aquele dia passou como um daqueles que nunca acabam, chamaram a polícia mas eles demoraram, só vieram horas mais tarde para o desespero de meus tios, na blusa de Josh haviam profundas e visíveis perfurações, mas não encontraram ele na piscina, mesmo que as pegadas de barro de seus tênis se dirigissem do gramado até a beira da mesma, e ainda sim a polícia não parecia tão preocupada, afinal havia um rastro como se alguém houvesse saído da água também.
Ficamos lá mais dois dias, talvez Josh aparecesse ou fosse encontrado, mas aparentemente isso não aconteceria, o clima já não estava mais para reuniões de primos, e meu pai preferiu ir embora, na manhã seguinte que pareceu ainda mais escura que a anterior, a janela do meu quarto estava novamente aberta e molhada, mesmo que eu a tivesse fechado bem na noite anterior, quando levantei pisei em algo molhado e olhando para baixo vi um objeto esbranquiçado, na verdade era o que sobrara de meu tênis, ele parecia ter ficado atolado em um pântano durante uns dois anos para chegar naquele estado, mas depois de tudo, o que estava fazendo ali? Olhei para fora, a água pingava da janela e além, a piscina quase transbordava, como se estivessem enchendo sozinha.
Empurrei o tênis para debaixo da cama e não falei nada sobre isso, entramos no carro e estávamos indo embora, e eu fiquei olhando para trás através do vidro enquanto subíamos a rua, nos afastando da casa de meus tios, permaneci olhando especificamente para piscina, dava para ter uma boa visão dela do alto da ladeira, e antes de descermos eu pude ver novamente a forma escura mover-se abaixo da água, aquela foi a ultima vez que estive ali.
Eu não sei o que teria feito meu primo ir até a piscina durante a noite, mas não encontraram o Josh, e oque eu soube depois confirmou o que eu suspeitava, pois seis meses depois meus tios se mudaram de lá, porque meu primo mais novo, Addam, também desapareceu deixando como rastro apenas um brinquedo que encontraram enroscado nas algas da piscina.
Eu senti alivio durante algum tempo por ter ido embora, culpa também mas ninguém iria acreditar em mim…
Mas agora a piscina de um de nossos vizinhos também está como a da casa dos meus tios, o cachorro deles sumiu, eu sei que ele gostava de beber água nela.
Então percebi que a coisa não estava somente lá, eu nunca tinha ouvido nada sobre isso, se algo desconhecido pode aparecer em lugares assim, lagos escuros de água turva, uma piscina que não usaram durante algum tempo e ficou um pouco cheia de algas…


Mas de algo eu sei, há alguma coisa na agua.


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Essa deveria estar na creepypasta *----*